Cassio Cardoso Pereira, cientista da UFMG, e colegas de diversas universidades do mundo publicaram um artigo na revista científica Bioscience (Scientists’ warning: six key points where biodiversity can improve climate change mitigation – o acesso é gratuito), sobre o papel da biodiversidade no combate ao aquecimento global. Os pesquisadores explicam que eventos climáticos extremos e desastres relacionados às mudanças climáticas estão surgindo em todo o planeta, resultando em perdas econômicas, sociais e ecológicas sem precedentes. Resolver a crise climática é urgente, mas os compromissos de emissão líquida zero de carbono em 2050 falharão se a biodiversidade não for totalmente integrada à agenda climática internacional. As mudanças climáticas aceleram a perda de biodiversidade, o que prejudica a resiliência dos ecossistemas e reduz sua capacidade de retirar carbono da atmosfera. A consequência são eventos climáticos ainda mais extremos, resultando em mais catástrofes. É preciso romper esse círculo vicioso, e Cassio e seus colegas propõem algumas soluções. Vamos a elas:
Conservação de estoques e sumidouros de carbono: Devemos expandir a proteção dos ecossistemas naturais para promover a manutenção dos estoques de carbono. Em outras palavras, é essencial que conservemos nossas florestas, e, ademais, promovamos a restauração de áreas degradadas.
Restauração da biodiversidade: Muitos países se comprometeram a restaurar terras degradadas, mas a restauração exige muito mais do que plantar árvores e cobrir o solo com qualquer tipo de vegetação. Os projetos de restauração geralmente usam um padrão para todos os tipos de ecossistemas, com pouca diversidade de espécies e sem sequer conhecer a vegetação vizinha ao local onde a restauração ocorre. Somente a restauração com uma gama diversificada de espécies nativas pode promover mais rapidamente a conectividade ambiental e restaurar os benefícios que os ecossistemas fornecem aos seres humanos.
Conservação integrada da fauna e flora locais: A conservação de animais silvestres e seus papéis nos ecossistemas são componentes-chave das soluções naturais para as mudanças climáticas – por exemplo a polinização e a dispersão de plantas que a fauna nativa promove.
Utilizar apenas áreas existentes de agricultura, pastagem e silvicultura: A agricultura é essencial para a nossas sobrevivência, e produção de alimentos e conservação da natureza não são objetivos antagônicos. As áreas agrícolas que existem no mundo são suficientes para a população humana subsistir, e não há necessidade de devastar novas áreas naturais para cultivos. Gestores e planejadores devem atuar ordenando as atividades agrícolas e coibindo o desmatamento.
Finalmente, os cientistas recomendam que a imprensa promova estratégias de comunicação para informar a sociedade sobre o papel da biodiversidade no enfrentamento da crise das mudanças climáticas. Essa é uma das missões do programa Fotossíntese Urbana.