Primeira moeda digital oficial do Brasil, o Drex teve recentemente projetos selecionados para sua segunda fase de testes. O ativo terá o mesmo valor do real e funcionará de forma similar ao Pix, porém sem limite de valor e com mais funcionalidades.
O Drex deve ser disponibilizado até 2026 e irá operar como papel-moeda digital, equipado com tecnologia blockchain, isto é, base de dados em cadeia ligada a partir de criptografia avançada e armazenados de forma descentralizada em diversos computadores. O mecanismo traz maior segurança e rastreabilidade às transações. Diferentemente do que ocorre com as criptomoedas, o Drex terá autoridade monetária garantida pelo BC, o que significa que não estará sujeito à alta volatilidade do mercado.
O Banrisul é uma das entidades envolvidas. Em colaboração com o Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), o banco realizou o lançamento da primeira rede blockchain conectada entre as duas organizações. Ela opera dentro da Hyperledger Besu, tecnologia escolhida para a construção do piloto do Drex, que funciona como um livro-contábil digital que registra as transações dos usuários
Ao todo, 13 propostas de uso da tecnologia foram escolhidas pelo Banco Central (BC) para desenvolvimento. Entre estas estão transações com automóveis e imóveis, financiamento de operações de comércio internacional e otimização do mercado de câmbio. O trabalho será conduzido por consórcios de empresas e autarquias estatais, com operações simuladas que buscam testar a segurança e a agilidade do recurso.
Prevalece o digital
O projeto do Drex é mais um movimento de digitalização dos meios de pagamento, que tem superado o uso de métodos físicos como cheques bancários, cédulas e cartões de crédito e débito. Segundo as Estatísticas de Meios de Pagamentos do BC, apenas no segundo trimestre deste ano, os brasileiros realizaram 15,4 bilhões de transações via Pix, mais que o triplo dos 4,8 bilhões de pagamentos feitos por cartão de crédito.
Entre os métodos em declínio, os cheques apresentam a maior diminuição. Em 1995, foram registradas 3,3 bilhões de compensações, enquanto em 2023 o número de totalizou 95% a menos: 168,7 milhões, conforme dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Para o professor da Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Fadergs) Mateus Carrilho, a demora na compensação e a falta de segurança estão entre as causas. A mudança nos hábitos de pagamento do consumidor sugere maior procura por métodos que ofereçam praticidade.
Os estabelecimentos têm se adaptado às novas demandas. Dados do levantamento anual realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador (ABBT) apontam que a parcela de estabelecimentos comerciais que aceitam formas de pagamento via celular passou de 40% em 2018 para 78% em 2024. Por meio da representação digital dos cartões, a chamada tokenização, celulares e até relógios cumprem a função do objeto, fazendo com que cada vez mais brasileiros troquem a carteira física pela digital.
Também de acordo com Carrilho, a pandemia de Covid-19 foi responsável por impulsionar mudanças nos pagamentos. O isolamento social contribuiu para a popularização de alternativas sem contato, como Pix e cartões por aproximação.
“A pandemia acelerou alguns processos que já se sabia que poderiam acontecer, mas que talvez demorassem mais tempo para se difundir de forma mais ampla entre a população”, reflete o professor Mateus Carrilho.
Ainda é cedo para determinar em qual medida o Drex irá influenciar os hábitos de pagamentos dos brasileiros. Mesmo assim, para o professor da Escola de Negócios da PUCRS Gustavo Inácio de Moraes, a inovação irá oferecer uma solução de pagamento rápida, tornando possível a eventual extinção dos cartões físicos. “Haverá impacto significativo no mercado de transações”, avalia o especialista.