Foto de Fernando Dias/SeapiRS
O Dia Nacional do Zumbi e da Consciência Negra, celebrado em 20 de Novembro, nesta quarta-feira, é lembrando e comemorado em diversos municípios do Rio Grande do Sul, em especial nas 140 comunidades quilombolas certificadas e reconhecidas pelo Ministério da Cultura, através pela Fundação Cultural Palmares. Nessas comunidades, localizadas em 70 municípios gaúchos, vivem em torno de 25 mil pessoas, cerca de 7 mil famílias de remanescentes quilombolas no RS. Esses dados integram o Diagnóstico publicado em 2022, elaborado pela Emater/RS-Ascar e secretarias estaduais de Desenvolvimento Rural (SDR) e da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).
A Comunidade Quilombola Linha Fão, em Arroio do Tigre, é uma delas. Nesta terça-feira (19/11), a comunidade sedia o lançamento do audiovisual “Comunidade Quilombola Linha Fão: cultura, entre histórias e vivências”, um vídeo arte que retrata as histórias, costumes e cultura da Comunidade, composta por 35 famílias. A Linha Fão está em processo de titulação da terra junto ao Incra. O documentário será doado à Secretaria Municipal de Educação e Cultural, bem como a escolas públicas e privadas de Arroio do Tigre, e divulgado nas redes sociais da Associação Quilombola, visando ao fortalecimento da cultura afrodescendente e, como patrimônio da comunidade, contribuindo para sua visibilidade social junto às demais localidades do município.
Já nos próximos dias 26 e 27, em Santa Maria, será realizada uma aula presencial do curso de Aters com povos remanescentes de Quilombos, promovido pela Emater/RS-Ascar e SDR durante o ano, para extensionistas sociais e rurais do RS. “Foram sete aulas virtuais, travando debates sobre a assistência técnica com povos tradicionais quilombolas e os seus direitos, trazendo gestores federais e estaduais para falar das ações com esses povos”, destaca Regina da Silva Miranda, extensionista e coordenadora estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural e Social (Aters) com comunidades remanescentes de quilombos da Emater/RS-Ascar.
A região de Santa Maria tem muitas comunidades quilombolas e no encontro serão debatidos os direitos à inclusão racial das comunidades de remanescentes de Quilombos. Representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural do Estado vai falar sobre a patrimonialização dos bens culturais quilombolas; da Secretaria Estadual de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, sobre o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial.
CATÁLOGO ARTESANATO E MOSTRA DE SEMENTES
“Nessa oportunidade, dia 27, será lançada a segunda edição do Catálogo da Presença Quilombola no Artesanato Gaúcho, com a participação de 40 artesãos de todo o Estado com o seu fazer no artesanato, utilizando matéria-prima do meio rural e outras”, anuncia Regina, ao salientar que a valorização desse viés cultural é muito forte nas comunidades quilombolas.
O Catálogo estará disponível online. Uma impressão limitada será doada para algumas lideranças quilombolas, especialmente os artesãos e artesãs. A pessoa que visitar o catálogo vai ter o contato do artesão, que torna possível a comercialização das peças à distância. “Dá para destacar que da primeira edição tem artesãos que se consolidaram com a comercialização das suas peças de artesanato”, diz Regina, ao citar a quilombola Maria Helena, do município de Morro Redondo, que participou de uma edição do programa É de Casa, da TV Globo, falando do artesanato dela, e o quanto isso foi importante para a geração de renda e fortalecimento da economia da família. “Nessa participação, de mais de meia hora, ela reconhece o trabalho dos extensionistas da Emater como apoiadores desse processo”, observa Regina.
Durante o encontro em Santa Maria haverá ainda uma amostra de sementes e mudas crioulas, “outro viés forte da cultura quilombola, que é a preservação das espécies crioulas, de sementes, espécies alimentícias, plantas de uso medicinal, plantas de uso ritualístico, que as comunidades quilombolas são repletas”, observa a extensionista.
IGUALDADE COM JUSTIÇA
Promover a igualdade racial, a justiça social e o direito à diversidade, reconhecendo todos os sujeitos negros e brancos como dignos de inclusão e de dignidade, motivou a instituição do Dia Nacional do Zumbi e da Consciência Negra, celebrado em 20 de Novembro. A data remete à morte de Zumbi dos Palmares, um grande guerreiro, protagonista de uma luta antiescravista, que morreu em 1695, em Alagoas, na Serra da Barriga, e também objetiva discutir o racismo na sociedade.
“Historicamente, o movimento negro disputa essa data de Zumbi dos Palmares, que veio em oposição ao 13 de Maio, Dia da Abolição, que não é representativa para a comunidade negra, sendo essa abolição uma abolição sem reparação, feita com uma lei de um único artigo. Então, a comunidade negra se vê representada por esta data”, analisa Regina.
A extensionista destaca que a data do 20 de Novembro é um ideário de militantes do movimento negro do Rio Grande do Sul. Um grande protagonista disso foi o poeta Oliveira Silveira, que sugere essa data, e também o movimento Zumbi dos Palmares, que tinha aqui no Rio Grande do Sul, e que travam relações com parlamentares negros, reivindicando a regulamentação dessa data junto ao Congresso Nacional. Regina complementa ser “importante ressaltar que não é só no 20 de Novembro. A sociedade brasileira tem que refletir todos os dias sobre isso”.
ATERS
Entre as ações de Aters, os extensionistas rurais, sociais e agropecuários desenvolvem um trabalho continuado com essas comunidades quilombolas. “Prestar apoio para sua produção agropecuária, com doação de sementes e prestação de assistência técnica, é uma dessas ações”, diz Regina, ao observar que, em alguns lugares, os extensionistas são reconhecidos pela própria comunidade como o agente público mais presente, “inclusive pela virtuosidade da Emater ter escritórios em todos os municípios onde estão as comunidades quilombolas. Então, as ações são muitas”.
Ao falar sobre o Dia Nacional do Zumbi e da Consciência Negra, Regina parafraseia a líder Angela Davis, filósofa, que dizia que “numa sociedade racista, não basta não ser racista, tem que ser antirracista. E tudo que poderia ser feito para acabar com o racismo, as pessoas negras têm feito. O que está faltando é as pessoas não negras se engajarem nessa luta. E essa data é uma oportunidade”, finaliza a extensionista.